Tuesday, May 15, 2012

Mais um pouco de Arcadimos:

  • Pastoralismo: o eu-lírico era sempre um homem do campo. Um pastor ou um camponês honesto que levava uma vida simples no meio da natureza e sua amada era sua pastora.
  • Convencialismo amoroso: o homem via a mulher sempre como uma figura distante, não havia grande destaque aos sentimentos e todas as histórias de amor eram bastante parecidas.
  • Bucolismo: o ambiente ideal dos poetas árcades eram campos, florestas, lugares naturais e muito tranquilos. O homem rural era sempre sobreposto ao homem da cidade já que conhecia a verdadeira felicidade.
  • Simplicidade: O vocabulário dos poemas era sempre muito simples, com bastante objetividade e pouco uso de figuras de linguagem. Vale lembrar que os sonetos eram muito usados justamente por remeterem ao Classiscismo.
Ideias latinas que sintetizavam os ideais da época:

Carpem Diem: em tradução literal, cantar o dia. Era o desejo de gozar dos pequenos momentos felizes e usufrutir dos prazeres da vida;

Ocus Amoenus: pode ser traduzido como lugar ameo, ambiente de natureza exuberante e agradável, o lugar perfeito para um pastor.

Aurea Mediocritas: era o homem ideal do Arcadismo. Um heróis humilde, sem muitos bens mas de caráter incorruptível, alma pura e honrada.
O que foi o Arcadismo ?

O Arcadismo, ou Setecentismo (anos 1700) ou Neoclassicismo é o período que  caracteriza principalmente a Segunda metade do século XVIII,porque o espírito reformista envolve este século numa valorização antropocêntrica, de um saber racional que reflete o desenvolvimento tecnológico, industrial, social e científico. Vive-se, agora, o Século das Luzes, o iluminismo burguês que prepara o caminho para a Revolução Francesa.

No início do século XVIII ocorre a decadência do pensamento barroco, para a qual colaboraram vários fatores: o exagero da expressão barroca havia cansado o público, e a chamada arte cortesã, que se desenvolvera desde a Renascença, atinge em meados do século um estágio estacionário e mesmo decadente, perdendo terreno para o subjetivismo burguês; o problema da ascensão burguesa supera a questão religiosa; surgem as primeiras arcádias, que procuram a pureza e a simplicidade das formas clássicas; no combate ao poder monárquico, os burgueses cultuam o "bom selvagem", em oposição ao homem corrompido pela sociedade do Ancien Régime ( o velho regime monárquico). Como se observa, a burguesia atinge a  hegemonia econômica e passa a lutar pelo poder político, então em mãos da monarquia. Isso se reflete claramente no campo social e artístico: a antiga arte cerimonial cortesã dá lugar ao gosto burguês.

O Arcadismo tem espírito nitidamente reformista, pretendendo reformular o ensino, os hábitos, as atitudes sociais, uma vez que é a manifestação artística de um novo tempo e de uma nova ideologia. No século XVIII a influência sobre Portugal vem da França devido a emancipação política da burguesia. Essa mesma burguesia é responsável pelo desenvolvimento do comércio e da indústria e já assistia a algumas vitórias na Inglaterra e Estados Unidos. Na França, a partir de 1750, os filósofos atacam o poder real e clerical e denunciam a corrupção dos costumes com grande violência.

Em Portugal, o Arcadismo estende-se desde 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana, até 1825, com a publicação do poema "Camões", de Almeida Garret, considerado o marco inicial do Romantismo português.

Grande Autor !

    Em 1790 nasceu uma Nova Arcádia, a que pertencia Manuel Maria du Bocage, que poderia talvez ter chegado a ser um grande poeta em outras circunstâncias. O seu talento levou-o, no entanto, a reagir contra a mediocridade geral e não se conseguiu elevar a grande altura de maneira sustentada, apesar de os seus sonetos competirem com os de Camões. Também foi um mestre da poesia breve e improvisada, que empregou com sucesso em sua Pena de Talião contra José Agostinho de Macedo. Este sacerdote era um autêntico ditador literário, e em sua obra Vós Burros ultrapassou a todos os demais poetas na agressividade de suas invectivas, chegando a ter tentado substituir os Lusíadas de Camões com uma obra épica inferior, Oriente. No aspecto positivo, escreveu notáveis obras didácticas e odes aceitáveis e as suas cartas e panfletos políticos mostram conhecimentos e tilidade. Contudo, a sua influência no ambiente literário de Portugal foi mais negativa que positiva.


Wednesday, May 9, 2012

Proposição das rimas do poeta


Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores:
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade, e não louvores:

Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração de seus favores:

E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns cuja aparência
Indique festival contentamento,

Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.
Já Bocage não sou!... À cova escura


Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

Poemas deste grande Autor

O Ciúme


Entre as tartáreas forjas, sempre acesas,
Jaz aos pés do tremendo, estígio nume,
O carrancudo, o rábido ciúme,
Ensanguentadas as corruptas presas.

Traçando o plano de cruéis empresas,
Fervendo em ondas de sulfúreo lume,
Vibra das fauces o letal cardume
De hórridos males, de hórridas tristezas.

Pelas terríveis Fúrias instigado,
Lá sai do Inferno, e para mim se avança
O negro monstro, de áspides toucado.

Olhos em brasa de revés me lança;
Oh dor! Oh raiva! Oh morte!... Ei-lo a meu lado
Ferrando as garras na vipérea trança.